Poderíamos estabelecer algumas conexões entre as obras de Ana Elisa Murta com o conceito de polinização, assim como o que ocorre, por exemplo, em um jardim.
De maneira análoga, a artista trabalha em várias telas simultaneamente e as percorre num sobrevoo incessante, num trabalho árduo e vigoroso.
Ao depositar o pigmento sobre as superfícies das telas, a artista busca a construção de um campo pictórico imantado por essas pequenas partículas de pó que vão impregnando as pinturas uma a uma. A construção do trabalho tem início no movimento de retirada das rochas e torrões nos arredores da cidade do Serro, em Minas Gerais. Esse procedimento torna visível o invisível: a pedra sob o solo.
O que antes estava submerso vem à tona ao ser ressignificado pela artista.
O primeiro estágio da construção das pinturas ocorre exatamente quando o material é recolhido para que, em um segundo momento, possa ser utilizado como pigmento. Como em uma espécie de alquimia mineral, as rochas e torrões passam por um processo metamórfico ao serem exumadas,
trituradas, maceradas e peneiradas. Assim, o que aflora deste processo é justamente o que restou dele, ou seja, o pó, o pólen mineral.
Roberto Bethônico